O retrato do maior império, com seus mandatários e aqueles que os cercam, mas também com um forte registro do homem comum. Esse é o Império Romano, que vem à tona esta semana na exposição Roma – A vida e os imperadores, que será aberta quarta-feira, na Casa Fiat de Cultura. Setecentos anos de um domínio que absorveu territórios do Ocidente e do Oriente são contados por meio de 370 obras, inéditas no Brasil, na mais abrangente mostra sobre a Roma Antiga realizada no país.
Tanto vulto consumiu os últimos cinco anos. “Não poderia trazer 100 peças maravilhosas, pois seria muito convencional. Precisava contextualizar, apresentar Roma em toda a sua complexidade”, afirma o curador Guido Clemente, professor de História Romana na Universidade de Florença. Para tal, ele reuniu obras de seis instituições: museus Arqueológico de Florença, Nacional Romano, Nacional de Nápoles, Arqueológico de Fiesole, Antiquário de Pompeia e Galleria degli Uffizi.
Cabeça colossal de Júlio César, em mármore, integra o primeiro módulo da exposição |
As obras vieram da Itália em quatro voos, três comerciais e um fretado. O transporte foi complexo, já que muitas das peças pouco saíram de seus museus originais. Além disso, as dimensões variam: há desde pequenas moedas e utensílios domésticos, até bustos, estátuas e sarcófagos (a peça mais pesada tem 1,4 tonelada) de imperadores e pessoas do povo. “Todo o mundo pensa que os romanos só imitaram os gregos, mas não é assim. Eles, por exemplo, inventaram os retratos realistas. Trouxemos 10 deles de homens e mulheres comuns, o que comprova que eles não eram somente arrogantes e imperialistas, mas também pessoas como nós”, diz Guido Clemente.
Sobre os grandes personagens históricos, há imagens de todos os imperadores, “aqueles que ainda estão na fantasia das pessoas”, continua o curador. “Temos ainda peças que foram recuperadas recentemente do mercado negro. Entre elas está uma imagem de Nero, o que é muito raro encontrar. Como ele se suicidou, depois de sua morte suas estátuas foram decapitadas”, explica. Outro destaque são três paredes de uma casa de Pompeia. “Com estas paredes, mostramos um quarto de uma típica casa romana.” A parte final da exposição chama a atenção para o politeísmo romano. “Destacamos todos os deuses e deusas do pátio romano para mostrar que eles respeitavam as religiões de outros povos. Também não eram racistas, não se pensavam como etnia. Eram muitos povos que estavam dentro de um mesmo domínio”, conclui.
De Chirico e Caravaggio
Nós, romanos
Num concerto em Ouro Preto, um colega francês me perguntava se o que o coro cantava era português ou latim: Ó deus meu, dizia o refrão, verso a que faltava não mais que um “s” para ser latino. Nada para espantar. Já Camões escrevera que Vênus, ouvindo nossa língua, cria que “com pouca corrupção era a latina”.
É que tudo que Roma tocou terminou romano: as artes, os costumes, a política, as virtudes e os vícios. Que Quintiliano pensasse Homero ser superior a Virgílio, os historiadores e oradores gregos melhores que seus conterrâneos – com exceção de Cícero –, não deve ser lido como autodepreciação, mas sim como uma espécie de “antropofagia” avant la lettre (no sentido oswaldiano). Assimilando o mundo, os romanos forjaram o que se chama de Ocidente, produto híbrido da (nossa) romanidade.
Como nele nos incluímos? Homero abrira a Odisseia dizendo: “O varão dize-me, Musa, que muito viajou...” Virgílio seguiu-lhe os passos e elevou o povo romano, na Eneida, começando com: “As armas e o varão canto...” Camões, nos Lusíadas, decidiu enaltecer “As armas e os barões assinalados...”. Deste outro lado do oceano, Jorge de Lima enfim desabafou: “barão falido, mas barão”.
Em resumo, tudo passagens, para o bem e para o mal – o que decerto nos autoriza também a dizermos: “Nós, romanos”.
Obs.:Infelizmente não pude ir na exposição,mas quando a exposição voltar tentarei ir.
Obs.:Infelizmente não pude ir na exposição,mas quando a exposição voltar tentarei ir.
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